estilo não é retorno: é insistência

O estilo é muitas vezes confundido com gosto, com preferência. Mas o estilo na sua forma mais pulsante, talvez seja aquilo que escapa ao controle do gosto.

Aquilo que se repete apesar de nós.

Lacan diz que a repetição é uma das formas do inconsciente. Ela não é simples cópia, mas retorno de um ponto de falha, de perda, de gozo.

O sujeito repete não por prazer, mas por estrutura: algo insiste, retorna, se reorganiza.

O mesmo pode ser dito do estilo.

Estilo não é simplesmente fazer escolhas conscientes, mas repetir inconscientemente certos traços, cores, formas, proporções, silhuetas. Algo ali insiste.

Algo se repete como sintoma, como assinatura que não se sabe escrever, mas que se escreve no corpo toda vez que ele se veste.

Deleuze vai mais longe: pra ele, a repetição verdadeira não é do mesmo. É a repetição do diferente.

Não é a volta ao idêntico, mas a produção de diferença. A cada repetição, algo escapa.

Algo se transforma. É a repetição como força criadora, não como prisão.

Na moda, isso aparece em quem se veste com obsessão.

Gente que só veste preto, mas nunca da mesma forma.

Gente que repete um corte, um acessório, um tecido mas sempre em outra combinação.

Não é porque falta imaginação. É porque ali o desejo encontrou um modo de se manter em movimento,

mesmo sem sair do lugar.

Estilo, então, não é originalidade.

É uma forma de repetição singular.

É a repetição como marca. Como modo de atravessar o tempo.

E talvez por isso a roupa, quando veste certo, parece já ter sido nossa antes.

Como se repetisse um gesto antigo.

Como se dissesse: isso já aconteceu. e ainda assim é novo.

Na HEL, cada peça nasce desse tipo de repetição: não de padrão, mas de gesto.

Tecidos garimpados, costuras fora da curva, silhuetas que voltam não porque “deram certo”,

mas porque ainda dizem algo.

É um tipo de escuta do corpo, do desejo, do erro.

Não se trata de inovar a todo custo, nem de repetir por inércia,

mas de revisitar o mesmo até que ele se torne outro.

Cada peça é uma forma de insistência.

E cada corpo que veste, uma continuação dessa diferença.